Crónica Feminina Escrita por um Masculino - 3 (1925, ...1930,...)

21-10-2011 19:38

Aberto o Parque Fechado, vou dar início à 3ª Etapa Cronista

 

No passado dia 7 de Setembro de 2011, pelas 17H05 tive o Privilégio de ter como Professora de Computadores a “MESTRE” Dulce Almeida.

Tivemos uma parte da tarde, bem passada, na Biblioteca Municipal do Porto, onde tivemos a possibilidade de ler a “BELA, MARAVILHOSA e CULTURAL Revista do Automóvel Clube de Portugal, outra das Grandes Bíblias do Desporto Automóvel em Portugal e não só.

 

Como isto de ser cronista, meticuloso ou pseudo-meticuloso - soa melhor, vou voltar a 1931 com transcrições dessa Bíblia “FABULOSA”. Tenho pena, mesmo Muita Pena, que o ACP não continue a Publicar uma Revista, de IMPAR Qualidade como eram as de 1930 – Nº 1 e seguintes, verdadeiros Tesouros da Cultura Escrita e Fotográfica.

Mas antes vou recuar a 1925,recorrendo ao livro o Automóvel em Portugal, ano que se organiza uma prova automobilística de regularidade a que se resolveu, pela primeira vez em Portugal, dar o nome de RALLYE. Tratou-se do Rallye Nacional de Automóveis, que decorreu à volta da Chaves. Supondo-se que as pessoas não saberiam do que se tratava, a Imprensa da época refere que «um Rallye é nada mais, nada menos do que um passeio cronometrado, onde cada qual parte de onde quer e se concentra num ponto que é Chaves». A classificação era estabelecida de acordo com a Distância Percorrida, Número de Pessoas Transportadas, Peso do Automóvel, Velocidade Média e Potência do Motor.

Não consta nenhuma Dama inscrita.

D. Maria La Caze volta a ser relembrada nesta Crónica.

1931 X Rallie Automóvel de Monte Carlo –“ Feita a selagem dos carros na sede do A.C.P. o B.N.C. de D. Maria La Caze, que levava como tripulante o seu esposo o Sr. La Caze.”

D. Maria La Caze telegrafava a 22 de Monte Carlo dizendo:

“« ARRIVÉ 16H, TROIS MINUTES»

Perdera, por três minutos, a classificação! E ao cabo de que esforços violentíssimos, para uma Senhora!”

 

 

“Os motivos de tal atrazo são dignos de conhecimento porque põe em destaque as extraordinárias qualidades de MME.La Caze.

Deve notar-se que o cárter do seu carro é bastante baixo, que a estrada Lisboa-Madrid está um pouco picada e por isso é necessário nesse trajecto grande atenção.

Além disso, a bomba eléctrica, que nos B.N.C. substitui o “BURRINHO”. Teve uma pane ao chegar a Setúbal, produzindo um atraso de 3 Horas na marcha; pane que se repetiu poucos Kms., adiante, motivando nova demora de mais 3 Horas. Apesar destas 6 Horas de atrazo independentemente das faculdades da Automobilista, chegou Mme. La Caze a Madrid dentro da Hora de Controle e sem se levantar-se do volante, a não ser alguns minutos para desentorpecimento dos membros, durante 70 Horas quase consecutivas guiou o seu carro até Monte Carlo, onde para salvar a vida de um transeunte distraído teve de arremessar o carro sobre o passeio o que retardou 7 Minutos, perdendo a classificação por tão desesperadora diferença.

Madame La Caze, que acompanhada por seu marido, fez o percurso em condições pouco favoráveis, conseguindo pelo seu esforço. Pela sua admirável resistência moral e física vencer todas as contrariedades e só não conseguiu classificação, por ter perdido em Monte Carlo o tempo que lhe sobrava, devido a um acidente de viação no qual teve de sacrificar-se para salvar a vida a um transeunte.”

II Grande Prova de Resistência e Turismo 1 800 Kms

“Dona Maria Lacaze no seu M.L.C. de Grupo A vence a Taça das Senhoras com 65,025 Pontos.

Nessa prova alinha também Albertina Martins de Brito Nº 9 em “RENAULT” Grupo B com 62,710 Pontos que recebeu a Taça ENGLEBERT.2

1932 – XI Rallie Automóvel de Monte Carlo

Fevereiro, a carta enviada por Madame La Case ao A.C.P. em que o A.C.P. a menciona com o seguinte texto introdutório:

“A corajosa automobilista Madame La Case que se viu impossível de terminar a prova devido a uma arreliadora «PANE» enviou ao A.C.P. a seguinte carta”.

“Exmos. Senhores

Agora que já passou a tristeza de ter ficado á vista de Monte Carlo, sem poder atingir a linha de chegada, pois a 80 Km. Dela o meu carro partiu o “PONT ARRIÉRE”, venho agradecer ao A.C.P. a recepção que nos fez e a sua assistência á minha partida matinal.

Que pena tive, que depois de 71 Horas de viagem, apenas a 2 Horas do fim a sorte desportiva me tivesse abandonado?! Só as bonitas rosas oferecidas pela Comissão Desportiva Portugueza foram o lenitivo para a minha decepção assim como a ideia que a Coupe de Portugal era ganha pelo nosso compatriota Fernando Ribeiro Ferreira Nº 20 em DELAGE.

Sem mais sou de Vexª com toda a consideração

M. La Case.”

 

 

1933 – XII Rallie de Monte Carlo

“Com o Nº 105 e levando como companheira Madame Mariovitc no seu AMILCAR de 1244 cc. Ainda este ano, não se viu livre da pertinaz pouca sorte que a persegue.

Teve de abandonar antes de Madrid devido a uma «pane» estupidamente inoportuna. Devemos concordar que as suas magnificas qualidades de automobilista e a sua admirável resistência e espírito desportivo eram merecedoras de melhor sorte. A notícia da desistência da brilhante concorrente Portuguesa contristou e aborreceu todos nós que a conhecemos e admiramos.”

Na leitura deste Magníficos Números da Prestigiada Revista “A.C.P.” retirei 3 apontamentos:

1º O “Problema da Circulação nas Grandes Cidades”

Ás 5 da tarde, o cruzamento da Rua Augusta com a Betesga constitui um sério problema para o transito.

2º Interessante a divisão do HILMON das 3 Inglesas do Automóvel Clube Feminino, cada uma das quais tinha uma mala própria com o respectivo Monograma, Não havia portanto motivo para desavenças nesta recomendável viagem «EM COMUM». Rallie de Monte Carlo.

3º O Dr. Eurico Serra vem de Madrid a Lisboa em 7h e 56m de viagem útil, média de 83,445 Km/Hora.

Tendo partido de Madrid na sua “conduite” “CRYSLER 65” acompanhado da sua esposa D. Maria Adelaide da Costa Serra.

Por hoje me fico, a 3ª Etapa Cronista terminou. Parque Fechado de uma semana.

José Manuel Tavares