1992 - Rallye Sintrense (Sintra)

26-08-2011 12:04

RALLYE SINTRENSE(SINTRA) 1992

 

Um dos momentos mais difíceis que tive de lidar, foi não poder participar numa prova por ter destruido o carro de prova, num treino… Mas até nos momentos mais “negros” há sempre uma história para contar, para aliviar a dor… se é que isso é possivel…

 

 Mais uma vez o carro tinha acabado de chegar(agora o Nissan Sunny GTI R), novinho em folha, com um motor novo(pois o antigo tinha partido no Ralye anterior) e eu tinha de andar nele antes da prova.  O Rui tinha uns compromissos de trabalho, que não podia adiar, e eu tinha de andar no carro com um “voluntário” à força que o João iria arranjar. Como não é fácil arranjar “heróis” à força, o navegador da Irma, o António Feio, foi “convocado” para a tarefa… Mal ele sabia o que o esperava…

 

Como já todos sabem, ou pelo menos os “antiguinhos” sabem, por  vezes faziam-se treinos abertos, para ajudar a rectificar as notas. “Abertos” é mesmo a palavra mais indicada, visto fazerem-se com as estradas(digo, troços…) abertas, ou seja, com o movimento normal, mas sempre com alguns cuidados… Punham-se alguns amigos/ajudantes nos cruzamentos e aí vai disto…Também para ajudar a sabermos quem poderia, eventualmente, vir do outro lado, desligavam-se as luzes… “O perigo é a nossa profissão” deveria ser o nosso lema… :)

 

Nesse fim de tarde teve mesmo de ser assim, pois o carro tinha chegado já no final do dia, e não havia mesmo tempo para o testar. O João Rodo chegou com o Nissan e lá fui eu com o António Feio fazer o teste ao carro no troço de Alcabideche.

 

Para os que não conhecem o troço de Alcabideche devo mencionar que é muito bonito, tem uma data de curvas e contra curvas a descer, com um traçado muito encadeado e bonito de se fazer. Depois começa-se a subir, também sempre com “alheira e contra-alheira” e do lado direito tem um pequeno muro, que permite não se cair ao rio que está lááááá no fundo, perto de um hospital que por vezes tem uns doentes muito “efusivos” , digo eu… :)

 

Era só uma volta, não um treino, até porque eu nunca tinha andado com o António Feio.  Mas as coisas são como são, e depois de andar uns metritos com o carro, o entusiasmo começou a apoderar-se de mim. Estava mesmo bom o motor novo… O António Feio já tinha dito umas vezes para ir mais devagar, pois não estava muito à vontade comigo, e eu entendo bem(agora…) o porquê, mas eu estava mesmo entusiasmada com o andamento.

 

Quando o troço(digo estrada…) começa a subir, aí é que eu me “passei” e comecei a fazer o que não devia, dar gás… O carro comportava-se lindamente e eu estava a adorar. O António Feio já tinha mandado andar mais devagar e entrar mais por fora nas curvas, mas eu estava animada demais para o ouvir. Eis que, depois de uma sequência de curvas rápidas, eu faço uma curva para a esquerda e … BUM…aparece um carro a descer em sentido contrário e eu bato-lhe na esquina da frente, mas o suficiente para fazer uns piões na estrada, embater no muro do lado direito, galgá-lo, capotar e cair pela ribanceira abaixo(já que não dá jeito nenhum cair pra cima… hehehe). Não sei quantas voltas demos, mas “Graças a Deus”  e a alguns arbustos e mata, lá paramos de lado a meio da ribanceira. A primeira coisa que fiz foi passar as mãos de cima a baixo para ver se tinha partido alguma coisa e perguntar ao António Feio se estava bem. Ele, estava “fulo”, e só dizia, -“ Eu bem avisei, eu avisei… corta a corrente, corta a corrente.”

 

Quando finalmente conseguimos sair do carro por uma das janelas, vimos que tinhamos caído uns bons metros e ouviamos umas vozes, quer de cima(da estrada), quer de baixo(do hospital, que era normal). De imediato, tanto o António Feio como eu, começamos  a gritar para ver se alguém na estrada, ou pelo menos o homem com quem colidimos, nos ouviam,  -“ Estamos aqui, estamos aqui.” Nada… ninguém nos ouvia.

 

De repente ouvimos o homem,  -“ Foi um gaijo, foi um gaijo num carro branco que me bateu e fugiu… Eu vi, eu vi, ele bateu-me e fugiu.” Nós bem gritávamos mas ninguém nos ligava porque pensavam que eram os “doentes” do hospital a fazer barulho… Entretanto, começam a chegar outros carros e eu ouço o Paulo Meireles a falar com o homem e a perguntar-lhe se tinha visto um carro com uma rapariga a guiar, e ele continuava, - “Não, eu só vi o gaijo a bater-me e a fugir, ele fugiu… o meu carro é novo, ai a minha mulher, estou perdido… Era um Renault, era um Renault e um gaijo que fugiu depois de me bater…”

 

O Paulo Meireles viu uma peça do Nissan na beira da estrada, e por instinto abeirou-se da ribanceira. Nessa altura nós gritamos bem, ele pôde ouvir-nos, e chamou os bombeiros. Ainda demorou algum tempo,(pareceram dias) mas lá nos conseguiram içar com uma corda e tiraram-nos de lá.

 

O “pobre” homem ainda estava a relatar que o tal “gaijo” lhe tinha batido e tinha fugido, quando nós chegamos ao cimo. Eu aproximei-me e disse-lhe, -“ Peço desculpa mas quem lhe bateu fui eu, e não fugi, caí pela ribanceira.” A cara do homem a olhar para mim é coisa que não consigo explicar por palavras, o que lhes digo é que ele pensou que eu estava a gozar com ele, e não me ligou nenhum… Só depois do João Anjos ter falado com ele é que ele acreditou que afinal tinha sido uma “senhora” e não um “gaijo” que lhe tinha dado aquela “pantufada” no carro acabado de comprar há uma semana…